Em tempos onde o sistema prisional brasileiro frequentemente estampa manchetes por sua precariedade, uma cidade do interior de Mato Grosso escolheu trilhar um caminho diferente. Um caminho de fé, reconstrução e humanidade. A inauguração da nova Cadeia Pública modelo de São Félix do Araguaia - MT não foi apenas a entrega de uma obra física — foi a celebração de uma revolução silenciosa, conduzida com mãos calejadas e corações esperançosos.

O evento, que reuniu autoridades, lideranças comunitárias e representantes da justiça, foi marcado por um momento de profunda emoção. A cantora Thamy Azambuja, acompanhada pelos próprios reeducandos, entoou um louvor cristão que ecoou pelos corredores da nova unidade como um sopro de vida nova. A força da música, unida às vozes dos que buscam recomeçar, fez brotar lágrimas nos olhos de muitos. O silêncio respeitoso que se seguiu foi mais eloquente que qualquer discurso: naquele instante, todos ali compreenderam que vidas estavam sendo restauradas.

Lucivaldo, presidente do Sindicato da Polícia Penal de Mato Grosso, não escondeu o orgulho de representar os profissionais da linha de frente: “É um avanço histórico. Mostra que é possível unir segurança e dignidade. A Polícia Penal tem papel fundamental nesse novo modelo.”

O grande mentor por trás dessa transformação, o diretor da unidade, Jackson de Souza, visivelmente emocionado, declarou: “Nem nos meus melhores sonhos imaginei que chegaríamos a esse nível. Cada tijolo aqui representa a fé no ser humano. Se não acreditássemos neles, nada disso faria sentido.”

E o que antes era um espaço marcado pelo sofrimento agora pulsa com dignidade e propósito. A cadeia foi construída com participação ativa dos reeducandos e abriga projetos transformadores: biblioteca, sala de aula modelo, fábrica de fraldas e tijolos, oficinas de artesanato, ferramentas que substituem a ociosidade pela oportunidade de reconstrução.

O promotor de justiça de São Félix do Araguaia, Dr. Marco Antônio Prado Noghuieira Perroni, um dos maiores articuladores do projeto, ressaltou a simbologia por trás da obra: “Eles ajudaram a construir aquilo que hoje os abriga e prepara para o retorno à sociedade. O que nasceu aqui é fruto da coragem de acreditar que dignidade também é parte da pena. E todos os projetos foram pensados por Jackson.”

Dr. Luís Otávio Tonello dos Santos, juiz substituto da Segunda Vara da Comarca de São Félix do Araguaia, destacou que investir em uma estrutura prisional humanizada é um ato de responsabilidade social: “Estamos falando de segurança pública aliada à cidadania. Essa cadeia é uma semente de mudança na forma como a pena é aplicada.”

Para o Defensor Público Dr. Robson Cleiton de Souza Guimarães, o evento transcendeu a materialidade da construção: “O que se inaugura aqui é uma nova visão de justiça, onde o ser humano é visto em sua totalidade. Essa cadeia é um marco de compromisso com a justiça social.”

Entre os muitos rostos que contribuíram para esse feito, o nome do Delegado da Policia Judiciária Civil Dr. Ivan Albuquerque Soares, foi lembrado com gratidão pela colaboração direta com o projeto. Também foram homenageados os prefeitos Dr. Acácio  (São Félix do Araguaia), Maranhão (Alto Boa Vista) e Parassú (Luciara), pela integração regional e apoio institucional.

A Câmara Municipal, por meio de seu presidente Cristiano Milhomem, também teve papel essencial na articulação legislativa. Representando o setor produtivo, a Presidente do Sindicato Rural Dra. Daniela, e o empresário Messias do Solar das Águas, mostraram que o engajamento da iniciativa privada é possível, e necessário. A presença do ex-vice-prefeito Tavares,  trouxe ao evento um toque simbólico e histórico, reafirmando que a transformação pertence a todos.

A nova unidade não é apenas um marco regional, é um modelo que já desperta interesse de outros municípios, servindo de inspiração para a transformação do sistema carcerário em todo o país.

Ao final do evento, uma frase repetida entre os presentes parecia resumir toda a simbologia daquele dia: “Navegamos todos na mesma direção: o bem comum para a sociedade”.

Em São Félix do Araguaia, escolheu-se acreditar no ser humano. E quando isso acontece, o impossível se torna concreto. Ou melhor, se torna reconstrução.

Vanessa Lima/O Repórter do Araguaia