O coronel da reserva do Exército Brasileiro, Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, réu pelo suposto envolvimento na morte do advogado Roberto Zampieri,  disse, durante depoimento em audiência de instrução, na segunda-feira (22), que sua relação com Aníbal Manoel Laurindo, indiciado como mandante do crime, era para tratar de questões políticas e atos a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Durante interrogatório, Etevaldo negou participar do homicídio do advogado, alegando que sequer o conhecia. Além disso, afirmou que não tinha fotos do escritório de Zampieri em seu celular, conforme apontado ao longo das investigações. "Me considero inocente e confio que a justiça será feita. Mesmo se não tivesse condições financeiras, não é meu perfil e jamais faria isso", disse o coronel. 

Questionado sobre sua relação com o pecuarista, Aníbal Manoel, Caçadini disse que ambos conversavam quase que diariamente, mas sempre sobre questões políticas. “Nossos assuntos eram da FAP e políticos. O Aníbal era uma pessoa muito engajada, politizada. Falava com ele quase todos os dias”, afirmou Etevaldo.

Entretanto, as investigações da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontaram que as conversas extraídas pela perícia, do celular do coronel, eram mais do que política, visto que há indícios de diversos crimes. 

Rusga em audiência

Durante o depoimento de uma das testemunhas, sendo ela um amigo de Caçadini, a promotoria de Justiça passou a questionar sobre a atuação do coronel frente às manifestações antidemocráticas a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em frente aos quartéis, chegando a perguntar se a testemunha viu o vídeo de Caçadini ateando fogo em uma farda militar. 

A defesa do coronel interrompeu a ação e destacou que a presente audiência se tratava do homicídio de Zampieri e não sobre “queima de fardamento”.  

Manifestações antidemocráticas  

De acordo com o  delegado Nilson Farias, da DHPP, Etevaldo e Aníbal partilhavam dos mesmos pensamentos conservadores e político-partidários, o que os aproximou, por meio dos grupos "Frente Ampla Patriota" e "100% Conservadores", no período em que manifestantes bloquearam rodovias e ocuparam a frente dos quartéis em todo o país.

“No período em que parte da população pedia a intervenção militar, que o exército tomasse o poder, pessoas acamparam nos quartéis e como os dois comungam do mesmo pensamento político-partidário (...) pelo que a investigação mostrou, é o que fez a aproximação entre o mandante [Aníbal] e, no caso o coronel, que seria um intermediário para aproximar aos executores”, destacou o delegado.

Nilson afirmou ainda que na época, Etevaldo estava à frente de mobilizações e manifestações antidemocráticas, o que propiciou a conexão de pensamentos de ambos, visto que Aníbal compartilhava em suas redes sociais, fotos e vídeos fazendo campanha ao ex-presidente e candidato à reeleição Jair Messias Bolsonaro (PL), o que segundo o delegado permitiu que ambos mantivessem contato. 

Com relação ao Pix no valor de R$ 2 mil transferido por Aníbal para a conta do coronel, a defesa do pecuarista disse se tratar de ajuda financeira aos manifestantes pró-Bolsonaro que acampavam em quartéis.

CECÍLIA NOBRE
Da Redação