“Como a arquitetura e urbanismo podem dialogar com os problemas enfrentados na aldeia? Como romper o ciclo de reprodução da escola urbana que se implanta inevitavelmente nas aldeias indígenas?” Os questionamentos fazem parte do projeto Escola A’uwê Uptabi Xavante na Aldeia Etenhiritipá, 1° colocado na categoria edificado coletivo do Edital de Chamamento Público CAU/MT nº 02/2023. Ao todo, cinco projetos foram premiados no concurso voltado à assistência técnica de habitação de interesse social (ATHIS), de 2023. 

As propostas apresentaram soluções inovadoras e apropriadas à realidade de comunidades mato-grossenses, como é o caso da nova escola para as crianças Xavantes da Etenhiritipá. A aldeia, localizada na região da Serra do Roncador e do Rio das Mortes, é uma das 15 existentes na Terra Indígena Pimentel Barbosa e precisava de um novo espaço para abrigar as atividades de brincar, aprender e ensinar, respeitando a história e cultura do povo.

A modalidade, “do edificado coletivo”, abrange melhorias de espaços comunitários na cidade e no campo (desde que vinculados às associações de moradores e/ou grupos comunitários). A arquiteta e urbanista e uma das autoras do projeto, Elizabeth Othon de Souza, conta que o trabalho tem origem em um projeto de extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), construído juntamente com a Associação Xavante Etenhiritipá - AXE, a partir de oficinas realizadas na aldeia entre os anos de 2018 e 2019.

No projeto premiado, foram utilizadas a ventilação cruzada; proteção solar; tijolo de barro com baixa condutividade térmica; e iluminação natural, com aberturas mais altas. Para otimizar a área construída e mitigar os custos, as funções semelhantes foram agrupadas no mesmo espaço. Atendendo à demanda da comunidade, foi feito espaço para almoxarife e equipamentos audiovisuais, atividade cultural forte na aldeia.

Elizabeth acrescenta que os estudos do projeto de extensão "Espaços de Brincar, Aprender e Ensinar: Uma Escola Xavante" buscam soluções técnicas mais adequadas para o contexto socioambiental e modo de vida Xavante. “O intuito era respeitar as pré-existências, o cotidiano da comunidade escolar e as possibilidades de execução da obra a partir do poder público local e manutenção posterior, partiu da necessidade e importância de se pensar equipamentos coletivos adequados, a partir de seus desejos enquanto povos originários”, finaliza.

Concurso ATHIS
O concurso tem como objetivo fomentar a implementação da ATHIS como instrumento legal de acesso a direitos constitucionais, a partir do desenvolvimento de ações que possam fortalecer a atuação do Conselho na esfera social, bem como na propagação da relevância da Arquitetura e Urbanismo com alcance para a parte da sociedade Mato-grossense que não tem acesso à assessoria e assistência técnica que possam complementar o fomento às políticas públicas.

Redação