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Efeitos das mudanças climáticas esperadas em 2060 no Pantanal já são sentidas hoje

Efeitos das mudanças climáticas esperadas em 2060 no Pantanal já são sentidas hoje

06/05/2024

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Os efeitos das mudanças climáticas esperadas para o Pantanal entre 2060 e 2080 já são sentidas hoje pelo bioma, segundo um estudo de órgãos do Governo Federal, universidades federais e outras instituições do país.

O estudo leva em conta as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que apontam para um Pantanal mais seco, mais quente e com muito menos chuvas até o final do século XXI.

O resultado do estudo também acende um alerta para a severa estiagem que o Pantanal deve enfrentar neste ano. Pesquisadores já apontam que a seca no bioma deve ser a pior da história recente. Conforme também publicado pelo Midiajur, os rios da bacia do Paraguai começam a diminuir de nível na época em que deveriam começar a subir e alagar as planícies pantaneiras em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

No relatório sobre mudanças climáticas ao redor do mundo, o IPCC aponta que, no decorrer do presente século, o Pantanal deve enfrentar cenários mais quentes, com menos chuva e um espaçamento maior da quantidade de dias que fica sem precipitação, além de dias de temperaturas extremas acima de 40 graus.

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Reprodução YouTube ICMBio

previsão de impactos para Pantanal IPCC

Projeções do IPCC para os impactos das mudanças climáticas no Pantanal ao longo do séc. XXI

Mas o pesquisador e servidor do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros no ICMBio, Dr. Christian Berlinck, aponta que a visão mais drástica do IPCC já aconteceu nos incêndios de 2020 e pode acontecer novamente em 2024.

"O que esperávamos para o Pantanal, de temperaturas de 2 graus acima da média, estamos já vivendo temperaturas muito mais acima do que isso. Então, aquilo que esperávamos acontecer entre 2060 e 2080, nós já estamos vivendo hoje", explica em apresentação realizada sobre um estudo que quantificou a morte de 17 milhões de animais nos incêndios do Pantanal em 2020, em 23 de abril.

Todos esses fatores podem se repetir esse ano e propiciar os grandes incêndios florestais que destruíram 30% do Pantanal, nos dois estados mato-grossenses, em 2020.

O pesquisador Christian Berlinck aponta que uma série de fatores combinados levaram aos incêndios catastróficos de 2020 no Pantanal.

A primeira foi o aumento da quantidade de dias com temperaturas acima de 40 graus. "Isso aumenta a desidratação da vegetação e a disponibilidade dela queimar e o fogo se alastrar", pontua. Em segundo e terceiro aspectos, na mesma medida, reduziram-se os dias consecutivos sem chuva e a sua quantidade total.

"Então, o que esse painel está mostrando é que nós vamos enfrentar uma situação crítica daqui para frente", destaca.A seca faz com que a vegetação fique disponível para a ocorrência de fogo. Então quando ocorreram as fontes de ignição, essa vegetação seca, junto com vento, altas temperaturas e baixa umidade, aumentou esse espalhamento do fogo e a severidade com que ele deixou no ambiente.

Christian Bilenk reforçou a preocupação com os baixos volumes dos rios que formam a bacia hidrográfica do Paraguai, que permitem a cheia no Pantanal. De acordo com o pesquisador, os números já são piores no biênio 2021-2020, além das secas registradas em 1974 e 1961.

"O rio Paraguai está bem abaixo do que tinha em 2020 - o que bota umas 15 pulgas atrás das orelhas, faz arrepiar todos os pelos do corpo e nos provoca a refletir. Temos que nos articular para evitar que isso aconteça", disse.

Conforme publicado pelo Midiajur, das 18 estações que medem o nível dos rios da bacia do Paraguai-Pantanal, 9 estão com valores abaixo da mediana histórica para a época, conforme o boletim do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

A estação mais importante para verificar se a planície do Pantanal vai ser inundada ou vai enfrentar uma estiagem é a de Ladário (MS), já que tem 125 anos de registros de dados. Os próprios pantaneiros só consideram um ano de cheia quando a água bate a altura de quatro metros na régua da estação. Mas a seca intensa deixou o nível do rio Paraguai muito baixo na região.

De acordo o boletim divulgado nesta , o nível do rio Paraguai em Ladário está quase dois metros mais baixo, com a régua batendo em 1,43 metro. O esperado era de 3,5 metros. Christian destacou, na apresentação, que os dados da estação de Ladário mostram que o nível do rio está mais baixo do que nas outras secas.

"A seca faz com que a vegetação fique disponível para a ocorrência de fogo. Então quando ocorreram as fontes de ignição, essa vegetação seca, junto com vento, altas temperaturas e baixa umidade, aumentou esse espalhamento do fogo e a severidade com que ele deixou no ambiente", diz.

Fogo não dá para ser excluído do Pantanal, aponta pesquisador

Mayke Toscano/Secom-MT

Pantanal incêndio 2020

Combate aos incêndios no Pantanal em 2020.

Embora as mudanças climáticas tenham alterado o clima e propiciado incêndios florestais severos, Christian Bilenk aponta que não dá para excluir o fogo do Pantanal, já que, junto com as inundações, é uma força da natureza que ajudou a moldar o bioma como o conhecemos atualmente.

Segundo o pesquisador, há registros de incêndios no Pantanal de 12 mil a 25 mil anos, sem a presença humana. A ocorrência dos incêndios, nessas ocasiões, se dava pela queda de raios. Com a ação humana, há registros de 8 mil anos.

"O Pantanal não é só moldado pelo fogo, mas também pelos níveis de inundação. São duas grandes forças que trazem essa diversidade biológica forte para o bioma. Então, excluir o fogo não é uma solução, em especial em um ambiente que evoluiu com a sua presença", enfatiza.

Christian aponta que, em uma menor quantidade, há fogo no pantanal durante o ano todo. Apenas na Primavera, período que coincide com o pico da estiagem, é que há mais ocorrências dela. O pesquisador destaca que as mudanças do clima alteram um fogo que é considerado bom para o bioma para um regime ruim.

Além da ação humana, os raios de tempestades são outro fonte de ignição para incêndios florestais no Pantanal, explica Christian. Mas, quando elas caem no solo e fazem pegar fogo na vegetação, ela encontra um solo úmido que impede que a queima tome grandes proporções. "Então, ela logo se apaga depois das chuvas".

Mas, com temperaturas mais quentes e um solo mais seco, o fogo começa a se propagar sem ter uma força para extingui-lo. No estudo, Christian aponta que 43% da área que pegou fogo no Pantanal em 2020, não tinha registro de foco de incêndio desde 2003. Essa área ficava permanentemente alagada, ou extremamente úmida, até no período de estiagem.

"Algumas vezes acontecem raios com tempestades secas. Vem as nuvens, o raio, mas não entra chuva. Isso aconteceu, por exemplo, em novembro de 2020 na região do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense. Seguramos aqueles incêndios de setembro e outubro na parte nordeste do parque. Só que depois veio uma tempestade de raios, que caíram dentro do parque e levaram aos grandes incêndios do final da temporada, que queimou 85% do parque. Então, existem algumas tempestades de raio que não vêm associadas a chuvas e, quando elas chegam no final da estação seca e início da chuvosa, a vegetação não está verde e úmida o suficiente. Então esse fogo se alastra quando não vem com chuva", relata.

O Pantanal não é só moldado pelo fogo, mas também pelos níveis de inundação. São duas grandes forças que trazem essa diversidade biológica forte para o bioma. Então, excluir o fogo não é uma solução, em especial em um ambiente que evoluiu com a sua presença

O pesquisador destaca que a técnica da queima prescrita, para eliminar o excesso de biomassa e vegetação seca, pode ser usada para diminuir a ocorrência de incêndios florestais de grandes proporções. O desafio é usar essa metodologia e evitar que o fogo saia do controle e inicie uma queimada descontrolada. Mas o uso da técnica, em outros parques nacionais, como Chapada dos Guimarães e Chapada dos Veadeiros (Goiás), têm mostrado o sucesso da prática.

A melhor época do ano para realizar a técnica da queima prescrita é no início da época da vazante, quando os rios e inundações do Pantanal começam a diminuir, mas ainda deixam o solo alagado.

"O desafio é entender qual é a melhor época do ano para que possamos fazer esse fogo, com bastante umidade no solo, para que consuma a biomassa que vai estar disponível para queimar e evitar que o incêndio comece ou tome grandes proporções", comenta.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já aprovou um plano de ação para o manejo integrado do fogo no Pantanal, no ano passado, para evitar incêndios florestais de grandes proporções.

O plano prevê a capacitação de técnicos e gestores dos órgãos estaduais de meio ambiente para realização de queimas prescritas, a formação de brigadas, a realização de campanhas e atividades de comunicação e educação ambiental, o monitoramento das queimadas por sensoriamento remoto, a preparação de aceiros, a ampliação do contingente de investigadores para realização de perícias, dentre outras ações.

O estudo sobre a morte de 17 milhões de animais, que trouxe as informações das mudanças climáticas sobre o Pantanal, envolveu pesquisadores da Embrapa Pantanal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), da Universidade do Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fundação Meio Ambiente do Pantanal, do Instituto Smithsonian (dos Estados Unidos), e de outras instituições.

 

 

ALLAN PEREIRA
Da Redação

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