O brilho de Mayra Pequeno e o Mutirão da APAE escrevem um novo capítulo de amor, luta e esperança em São Félix do Araguaia
21/04/2025
Era impossível conter as lágrimas. O prédio que por tanto tempo foi esquecido, tomado pelo mato e pela poeira do tempo, agora pulsa vida, esperança e cuidado. O mutirão realizado pela nova gestão da APAE de São Félix do Araguaia emocionou a comunidade com uma história de recomeço construída a muitas mãos, e corações.

Mayra Pequena, uma das grandes protagonistas dessa nova história, compartilhou sua emoção ao entrar no local. “Quando eu entrei, eu não tinha visto o que tinha ali. Tem até parente meu ali do alto, meu tio, que eu não ia ver. Um tio meu lá do alto foi visto ali, recepcionando, esperando pra gostar, né, tia?”, disse ela, com a voz embargada.
A ideia do mutirão nasceu de uma necessidade simples, mas urgente: reorganizar as salas de recursos das escolas. “Eu sou mãe atípica. Conversei com o Bruno, que era psicólogo escolar na época, e falei: ‘Bruno, acho que as salas estão precisando de alguma coisa, né? Precisando organizar’”, relembrou Mayra.
Foi aí que entrou Bruno, o psicólogo que ouviu, acolheu e transformou uma conversa em projeto. “Vamos fazer um levantamento e levar para o Promotor de Justiça Dr. Marcos Antônio. Quem sabe ele aprova, né?”, sugeriu. E o impossível começou a se tornar realidade.
Ao chegar ao Ministério Público, Dr. Marcos Antônio não hesitou. A emoção foi coletiva quando ele disse: “Coloca no sistema do Ministério Público que eu vou repassar o dinheiro”. Com essa simples frase, nasceu à base de um novo tempo para a APAE de São Félix do Araguaia.
Com o aval do promotor, Mayra foi além. Durante uma consulta do filho com a Dra. Camila, ela apresentou a proposta: “A gente está precisando levar os profissionais para São Félix do Araguaia. A senhora topa?” A médica aceitou na hora e trouxe consigo a psicopedagoga e a Dra. Viviane. “Ela explicou que sozinha não é essencial que ela venha, porque o pessoal precisa passar por uma equipe”, destacou Mayra.
Com tudo pronto, plano, valores, estimativa de atendimentos, o projeto foi entregue novamente ao Dr. Marcos Antônio, que prontamente autorizou e viabilizou a destinação de R$ 4 milhões, baseados nos salários regionais, para contratação de fonoaudiólogo, psicólogo, atendente terapêutico e terapeuta ocupacional.
Mas ainda havia outro obstáculo: a conta da APAE estava bloqueada. Mayra então foi atrás da antiga gestão, reuniu-se com os ex-integrantes na casa da Marinete, buscou datas, documentos, contas, e propôs: “Se vocês permitirem, eu tento conversar com o Dr. Marcos. A gente faz uma nova eleição emergencial e dá andamento nisso”. A resposta foi positiva.
A eleição aconteceu dentro da própria Promotoria de Justiça, e rapidamente foram iniciados os trâmites para filiação à Federação Nacional e Regional das APAEs, fundamental para o uso de logomarca, documentação e formação de quadro associativo.
O prédio da APAE, apesar de deteriorado, já existia. Tinha funcionado como escola Tancredo Neves, depois como residência. Foi construído com recursos do Ministério do Trabalho, e embora a origem da doação do terreno seja incerta, sabe-se que ele pertence à própria APAE. “Isso aqui foi o resultado de uma luta passada”, lembrou Mayra. A disputa pelo espaço envolveu até resistência para manter o fundo do terreno, conforme relembrou Mayra.
A reforma do prédio contou com o projeto assinado por Marcos Túlio e executado com o apoio do Ministério Público. O sonho ganhou forma com paredes renovadas, salas organizadas e o espírito coletivo de um povo que não desiste.
A nova diretoria foi homologada com participação dos antigos membros e de novas lideranças com fôlego e domínio de tecnologia. “A gente manteve o que já tínhamos de mais importante, com sangue novo. Era necessário”, explicou Mayra.
Mayra também destacou um ponto sensível: o papel dos pais. Muitos imaginavam que os filhos ficariam na APAE o dia inteiro. “Na verdade, não é. Eles vêm para um atendimento terapêutico, que dura de 40 a 45 minutos. Depois, o profissional dá um feedback para os pais, com orientações e tarefas. A gente não quer, de jeito nenhum, que os pais terceirizem as habilidades.”
Ela reforça que o trabalho é em conjunto. “Aqui ele vai passar duas, três horas por semana. Em casa, vai passar o mês. E não adianta ele vir pra cá, ter atendimento e chegar em casa e ficar o tempo todo na TV”.
As crianças entram para os atendimentos e os pais aguardam. Para os que ainda usam fraldas, é necessário trazer um kit com fraldinha e lenço umedecido. “Não é creche. A maioria está achando que vai trazer a criança e ir fazer sobrancelha, arrumar casa... Não! Eles têm que estar aqui. A gente separa cinco ou dez minutinhos pra dar um feedback do que a criança precisa trabalhar em casa”.
Cada criança terá uma agenda individualizada, conforme avaliação no mutirão. “Tem criança que precisa de psicólogo e não de fonoaudiólogo. Outra só de psicopedagogia. A ideia é que passem duas a três horas por semana aqui conosco”, concluiu Mayra.
A nova APAE de São Félix do Araguaia não é só um prédio. É um marco. Uma lembrança viva de que quando amor, empatia e coragem se unem, milagres acontecem.
E aquele velho prédio abandonado? Agora é casa de esperança. E faz até quem só passava por ali... chorar.
Vanessa Lima/O Repórter do Araguaia
![]() |
1 Comentário
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo
Nome
|
E-mail
|
Localização
|
|
Comentário
|
|
Que Obra linda!!Realmente muito importante para a nossa região. Entretanto, foram outros engenheiros responsáveis pela obra, fazendo alterações no projeto inicial e acompanharam toda a execução. Tem uma placa enorme na frente com o nome deles rs