Médico acusa vereador de intimidação e pede cassação de mandato
Confusão ocorreu quando parlamentar foi a UTI do antigo pronto-socorro em busca de informações sobre familiar
A Comissão de Ética da Câmara Municipal de Cuiabá recebeu mais um pedido de representação por quebra de decoro parlamentar contra um vereador da casa. Dessa vez, o líder do prefeito e vereador Marcrean Santos (MDB) é o alvo do pedido. Nesta quinta-feira (13), o presidente do legislativo municipal, vereador Chico 2000 (PL), leu a representação e enviou para o órgão.
A representação é assinada pelo médico intensivista Marcus Vinícius Ramos de Oliveira, que acusa Marcrean de usar o cargo de vereador para intimidá-lo durante o expediente de trabalho, no antigo Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá.
Na representação, Marcus contou que Marcrean invadiu a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 2 da unidade hospitalar para buscar informações sobre o estado de saúde de uma parente na manhã do último domingo (9), enquanto o profissional assistia pacientes internados na ala.
"Ainda no seu destempero e despreparo proferiu ameaças aos gritos como forma de me intimidar para que conseguisse informações de seu interesse pessoal, fora do horário estipulado para tal e uma afronta aos trabalhadores desse Unidade de Saúde", escreveu na representação.
Para a imprensa, Marcrean deu a versão de que foi ao antigo Pronto Socorro para buscar informações do quadro de um parente de terceiro grau, que mora em Mimoso e estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. O vereador afirmou que comunicou o secretário municipal de Saúde, Deiver Teixeira, sobre a visita. Ele foi acompanhado de seis membros da família e dois assessores.
"Entrei na UTI sozinho, perguntei quem é o médico responsável e era o Marcus Vinicius. Ele entrou no plantão às 7 horas e ele estava dormindo no horário de serviço, que eu vou denunciar no CRM. Quando eu o acordei, ele ficou bravo", contou.
Marcrean disse que, depois de explicar o motivo da visita, Marcus teria dito que não tinha autorização para dar o quadro clínico fora do horário de visita e que o médico perguntou quem ele era. Foi quando Marcrean disse que era vereador e o profissional da saúde disse que usava o cargo para entrar na unidade fora do horário permitido.
"Eu falei não. Eu estou aqui porque tem um parente aqui, como eu viria para qualquer outra pessoa. Imagina você com uma parente na UTI, a família em desespero para obter uma informação e eu, como cidadão, não posso tê-la? [...]. O que esse médico fez? Não me deu a informação, falou que eu estava lá como vereador abusando da minha autoridade, que eu não tenho autoridade para entrar em lugar nenhum", declarou.
A Polícia Militar chegou a ser acionada por causa do bate-boca. O vereador também disse que, após a ida ao hospital, a parente foi submetida a uma cirurgia no dia seguinte, foi entubada e veio a óbito. Marcrean suspeita de negligência médica.
"Eu suspeito, mas não tenho como provar porque eu vou investigar. É claro que eu suspeito que pode ter tido negligência médica. E por que que ela tinha que fazer uma drenagem no tórax e depois que teve esse problema, fez a drenagem do bom e ela morreu. Uma mulher com menos de 60 anos", questionou.
Versão do médico
O médico também relatou, em comunicação interna e anexada a representação, que "as informações seriam repassadas à família no horário da visita devido a correria no período da manhã". Contudo, Marcus contou que Marcrean exigiu que as informações que ele queria fossem repassadas naquele momento e citou que era vereador. "Era 'ele[Marcrean] quem estava querendo informações", registrou o profissional da saúde.
Em seguida, o médico contou que Marcrean teria dito uma mentira para os familiares, que acompanharam o vereador até a unidade hospitalar, de que Marcus estava dormindo.
No comunicado interno, Marcus afirmou que, em momento algum, negou informações sobre o quadro de paciente e orientou o vereador e os familiares de que as informações médicas seriam repassadas no horário reservado a todos os familiares dos pacientes internados.
"O vereador Marcrean Santos exasperava aos gritos dentro do setor atrapalhando a rotina e criando um ambiente de tumulto. Foi chamado a atenção por um dos colegas médicos que encontrava-se naquele momento. Foi acionado a Polícia Militar devido ao transtorno criado pelo vereador", relatou.
Representação foi lida
A representação de Marcus foi lida pelo presidente da Câmara, vereador Chico 2000 (PL), na sessão plenária desta quinta-feira (13). O pedido para abertura de um processo por quebra de decoro parlamentar foi enviado à Comissão de Ética.
“Demos o mesmo procedimento que sempre demos a todos. Chegou, encaminhei a Secretaria de Apoio Legislativo e será lido hoje no Plenário para dar conhecimento aos vereadores e no mesmo momento será encaminhado para a Comissão de Ética porque quando o pedido é ético quem faz a admissão do mesmo é a Comissão de Ética”, explicou Chico 2000 à imprensa.
Se a investigação da Comissão de Ética concluir pela quebra de decoro, Marcrean pode ser censurado, ou ter atividades parlamentares suspensas por um período ou até mesmo ter o mandato cassado.
ALLAN PEREIRA
Da Redação
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