Wellington defende empresa para apuração; senadores respaldam TSE
Maioria da bancada de MT no Senado defende que as instituições são fortes e que resultados das urnas devem ser respeitados
Com seis mandatos como deputado federal e buscando a reeleição ao Senado, Wellington Fagundes (PL) incorporou o discurso do presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, e defende o posicionamento da sigla de que é legítima uma apuração paralela nas eleições 2022, segundo ele, para garantir mais transparência ao processo eleitoral brasileiro.
A manifestação reforça a tese contra a confiabilidade das urnas eletrônicas, constante na pauta do presidente, o que tem criado um clima de tensão entre o Palácio do Planalto e a Justiça Eleitoral. Para Wellington, Bolsonaro tem total direito de exigir a contração de uma empresa para acompanhar a apuração de forma independente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sugestão que o PL deve defender até a votação em outubro deste ano. O senador, no entanto, faz questão de deixar claro que não fala por si, mas defende o posicionamento partidário.
Nos últimos dias, Bolsonaro voltou a atacar com mais força o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas no Brasil, aumentando a crise institucional com o Judiciário. Em várias ocasiões, colocou em dúvida a lisura do processo eleitoral e acusou fraude, sem provas, nas eleições de 2018, quando foi eleito.
Bolsonaro é declaradamente crítico de Alexandre de Moraes, futuro presidente do TSE
Bolsonaro é defensor do voto impresso, proposta rejeitada pelo Congresso Nacional. No último dia 5 de maio, ele anunciou em live que o PL vai contratar uma empresa para fazer a auditoria das eleições. Chegou ainda a sugerir a participação das Forças Armadas nas eleições para uma apuração paralela, após dizer que havia uma "sala escura" para contagem de votos e escolha de candidatos.
O presidente chegou a ser julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por conta das denúncias contra a chapa da candidatura de 2018, que utilizou disparos massivos de fake news contra os adversários. A cassação foi por abuso de poder econômico, apontada como "fato notório", não ocorreu e por unanimidade Bolsonaro foi absolvido pelos ministros da Corte, por falta de provas suficientes.
No entanto, o ministro Alexandre Moraes, que vai presidir o TSE no próximo ano, no entanto, advertiu que nas eleições de 2022 a conduta não será tolerada. “Nós já sabemos como são os mecanismos, quais são as provas que devem ser obtidas e como. E não vamos admitir que essas milícias digitais tentem novamente desestabilizar as eleições a partir de financiamentos espúrios não declarados”, disse Moraes.
“Esse será um precedente importantíssimo para que a Justiça Eleitoral possa, assim como os outros mecanismos que forem sendo aprimorados, [ter] mais um instrumento importante e um recado muito claro: se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado e as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia”, afirmou o ministro do TSE.
"Esse assunto é um assunto que exige, extremamente, conhecimento técnico. É claro que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo. Agora, fazer a fiscalização é um direito de todos os partidos. O nosso partido já se posicionou em até investir parte do Fundo Partidário, já defendido pelo presidente Bolsonaro, para que tenha uma fiscalização independente, com a contratação de uma empresa de carácter nacional e internacional", disse na semana passada, em Várzea Grande, durante evento de comemoração dos 155 anos da cidade.
"O PL não abre mão da fiscalização, com a contratação dessa empresa de renome". Questionado se o receio de Bolsonaro sobre possível fraude nas urnas é ou não factível, ele responde: "o presidente tem o direito de buscar que as eleições seja o mais cristalina possível, por isso o nosso posicionamento pela fiscalização. Esse é o posicionamento do PL", defendeu. Wellington preside o partido em Mato Grosso e foi um dos articuladores da filiação de Bolsonaro ao partido, o que deu força a Wellington na busca pela reeleição.
Ocorre, no entanto, que, na bancada federal, Wellington discursa sozinho. Os também senadores Jayme Campos e seu suplente, Fábio Garcia, ambos do União Brasil, destoam da necessidade de uma apuração paralela e respaldam a confiabilidade do processo eleitoral sob condução da Justiça Eleitoral.
Fábio, por exemplo, defende que "quaisquer dúvidas sobre o processo eleitoral devem ser sanadas antes das eleições, se houver dúvidas quanto a apuração, que sejam esclarecidas para que a gente tenha um processo seguro, tranquilo e todo brasileiro possa ter confiança no nosso sistema". Ele lembra que as urnas eletrônicas, questionadas pelos bolsonaristas, são instrumentos utilizados já há bastante tempo. Quanto à apuração paralela, Fábio pula fora: "eu acho que a apuração tem que ser única e o resultado único, para que não haja dúvida sobre o resultado".
Jayme Campos foi mais crítico. Também na ocasião do aniversário de Várzea Grande, ele disse que o presidente Jair Bolsonaro tem que parar de atacar as urnas e a Justiça Eleitoral. "Isso é muito ruim. Isso dá, assim, a intranquilidade para o cidadão com menos esclarecimento de achar, eventualmente, que isso [fraude] poderá acontecer. Esse negócio de ficar incitando a população, isso não funciona. Isso é ruim, é ir contra a ordem pública no país. Tudo isso aí, sabe o que é? Chama-se engodo. Não funciona, não tem ambiente no Brasil. As Forças Armadas não vão entrar, em hipótese alguma, em um processo eleitoral. A instituição perde a respeitabilidade da sociedade brasileira", disse, descartando um ambiente favorável a um possível golpe de Estado ou a volta da Ditadura.
Por fim, o senador mostra o seu posicionamento: "Como parlamentar e, sobretudo como republicano, democrata e que acredito na democracia no Brasil, eu não posso em, hipótese alguma, desacreditar as nossas instituições".
Já o senador Carlos Fávaro (PSD), por sua vez, vem no mesmo tom de Jayme. Mas acrescenta a gravidade de um debate sobre as urnas eletrônicas, nas quais demonstra confiabilidade, enquanto o centro das discussões em Brasília deveria ser a situação socioeconômica do País. "Em primeiro lugar, este tensionamento constante faz muito mal para o país. Temos problemas sérios neste momento, um alto desemprego, pessoas passando fome, o preço dos combustíveis nas alturas e ainda vivemos uma Pandemia. Nosso esforço deveria estar concentrado nessas questões. As urnas eletrônicas são seguras, participei de três eleições e respeito o resultado das urnas de todas as disputas". Sobre um eventual golpe, Fávaro diz: "não acredito que isso ocorra. Nossas instituições são fortes, consolidadas e a democracia prevalecerá".
Renan Marcel
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